Uso de cartão de crédito entre baixa renda: 60% dos brasileiros ainda não tem acesso
Uma pesquisa Quaest de 2025, “Diferenças entre Classes Sociais Brasileiras”, revelou um dado importante sobre o uso de cartão de crédito entre baixa renda. Apenas 40% da população possui cartão de crédito, mesmo com 68% tendo com conta bancária.
Em contraste, o Pix se tornou a ferramenta financeira mais presente na base da pirâmide social.
Neste artigo, entenda o que esses números significam, por que o cartão de crédito ainda é pouco acessível e como o Pix está moldando a inclusão financeira no país.
O que diz a Pesquisa Quaest sobre crédito e Pix
A mais recente pesquisa da Quaest, divulgada em 2025, trouxe um panorama detalhado sobre o uso de cartão de crédito entre baixa renda no Brasil.
Com base em entrevistas domiciliares feitas em 2024, o levantamento analisou o acesso a ferramentas bancárias como conta-corrente, Pix e cartão de crédito. Itens que refletem o grau de inclusão financeira da população.
Entre os brasileiros de baixa renda, os dados mostram o alto uso do Pix, mas uma limitação no acesso ao crédito formal. Veja os principais números:
- 68% possuem conta bancária;
- 65% utilizam o Pix regularmente;
- Apenas 40% têm cartão de crédito.
Esses indicadores revelam que, mesmo com a presença significativa de contas digitais ou básicas, o acesso ao crédito, especialmente por meio do cartão, ainda é restrito para a maioria da população.
O Pix, por sua vez, se consolidou como o principal instrumento de transações financeiras, devido à facilidade de uso e à ausência de exigências bancárias complexas.
Por que o cartão de crédito ainda é pouco acessível?
Apesar de boa parte da população de baixa renda já estar inserida no sistema bancário, com contas digitais e uso intenso do Pix, o acesso ao cartão de crédito ainda é restrito.
Essa limitação não é apenas uma questão de escolha pessoal, mas sim o reflexo de barreiras que dificultam a entrada desse público no crédito formal.
Fatores como renda instável, falta de histórico financeiro positivo e medo do endividamento tornam o cartão de crédito uma ferramenta distante para milhões de brasileiros.
A seguir, explicamos os principais motivos por trás dessa exclusão.
Falta de histórico e renda informal
Mesmo com uma conta ativa no banco, muitas pessoas de baixa renda não realizam movimentações regulares ou não recebem depósitos formais.
Isso faz com que o sistema bancário não consiga analisar corretamente o perfil financeiro do cliente.
Além disso, grande parte desse público atua na informalidade, com trabalhos temporários ou vendas esporádicas e, portanto, não possui comprovante de renda.
Como o crédito no Brasil ainda depende fortemente da análise de dados formais (holerite, carteira assinada, declaração de IR), há grandes dificuldades nas aprovações de cartão.
A ausência de histórico também afeta o score de crédito, um fator crucial para a liberação de limites mesmo nos bancos digitais.
Medo do endividamento
Outro fator relevante é o próprio receio da população em relação ao cartão de crédito.
Entre os brasileiros de baixa renda, o uso do crédito é frequentemente associado a dívidas impagáveis, juros altos e cobranças inesperadas.
Como o cartão permite o parcelamento e o uso de valores além do que se tem em conta, muitas famílias, que já vivem com orçamentos apertados, preferem evitar o risco de perder o controle financeiro.
Análise de risco dos bancos
Do lado das instituições financeiras, a concessão de crédito envolve critérios rigorosos. Os bancos analisam se o cliente tem renda estável, bom histórico de pagamento, movimentações regulares e perfil de risco baixo.
Para boa parte da população, esses critérios muitas vezes não são atendidos. O resultado é a recusa automática na solicitação de cartões, ou então a oferta de limites extremamente baixos, que tornam o cartão pouco útil para o dia a dia.
Além disso, instituições tradicionais tendem a priorizar clientes com maior potencial de retorno financeiro.
Pix: A ferramenta preferida da população de baixa renda
O Pix tem se mostrado uma alternativa acessível e eficiente. Sem tarifas, sem análise de crédito e com uso imediato via celular, ele superou outras ferramentas financeiras na base da pirâmide.
Ele também é muito usado para receber pagamentos, ajuda de familiares e benefícios sociais. Isso o torna essencial na rotina de quem vive com orçamento apertado.
Com o avanço do Pix, mais pessoas abriram contas digitais, mesmo que básicas. Isso promove o contato com contas bancárias, mas ainda sem acesso pleno ao crédito.
Cartão de crédito vs. Pix: principais diferenças no uso
Enquanto o Pix é imediato e acessível, o cartão exige mais critérios, o que reforça a exclusão financeira para milhões de brasileiros.
Como ampliar o acesso ao crédito com segurança?
Embora o uso de cartão de crédito entre baixa renda ainda seja restrito, existem formas de construir um histórico financeiro confiável mesmo com renda informal.
O segredo está em demonstrar bons hábitos financeiros, manter regularidade nas movimentações bancárias e utilizar ferramentas já disponíveis no dia a dia.
Aos poucos, isso ajuda a criar confiança junto às instituições financeiras, abrindo portas para o crédito formal de forma consciente e sustentável.
Mesmo com renda informal, é possível:
- Usar Pix com frequência;
- Pagar contas em dia;
- Manter saldo positivo em conta digital.
Com o tempo, esses hábitos geram visibilidade positiva no sistema bancário, permitindo que o consumidor seja visto como menos arriscado, mesmo sem emprego formal.
Além disso, fintechs e bancos digitais têm criado produtos mais inclusivos, como:
- Cartões pré-pagos, que funcionam com saldo recarregado, sem risco de inadimplência.
- Cartões com caução, em que o cliente deposita um valor como garantia (por exemplo, R$ 200) e recebe um limite equivalente.
- Cartões com limite inicial baixo, que crescem conforme o uso e o bom comportamento.
Essas soluções são excelentes portas de entrada para quem quer conquistar autonomia financeira sem se expor a dívidas impagáveis
Do mesmo modo, muitos programas sociais oferecidos pelo governo federal já vêm integrados a contas bancárias ou digitais. O que ajuda a formalizar a relação financeira de pessoas que antes dependiam exclusivamente de dinheiro em espécie.
Benefícios como o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o programa de incentivo à permanência escolar Pé-de-Meia são pagos por meio de contas da Caixa ou do Banco do Brasil.
Ao movimentar esses valores de forma recorrente e consciente, o beneficiário começa a construir um histórico de movimentação e recebimento estável.
Embora o acesso a contas bancárias tenha avançado no Brasil com o Pix, o uso de cartão de crédito entre baixa renda ainda é um desafio para 60% da população.
A ausência do cartão de crédito entre milhões de brasileiros não é fruto de desinteresse, mas sim de barreiras reais. Mas com alguns cuidados financeiros, é possível mudar esse cenário.
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